Metaplasmos

Quando queremos saber a origem de uma palavra, buscamos sua Etimologia. É ela quem vai determinar a evolução das palavras através do tempo. Quase a totalidade das palavras da nossa língua se transformou desde sua origem até hoje, e os processos de transformação fonética são bem estudados e documentados. Estes processos são chamados de Mataplasmos.

Vamos entender um pouco melhor o caminho que as palavras fizeram para sair do Latim e chegar ao Português?

Por exemplo: como o verbo “ponere” virou “pôr”?

Algumas destas transformações geram palavras divergentes: palavras diferentes que vieram da mesma origem, como por exemplo “pleno” e “cheio”, que vieram da palavra latina “plenu”:

Plenu > Pleno > Pleo > Cheo > Cheio

Já outras transformações geram palavras convergentes: palavras iguais, mas que têm origens diferentes, como “são”, que pode ser o verbo “ser” na terceira pessoal do plural, o adjetivo, ou a variação de santo:

Sunt > Son > Som > Sam > São
Sanus > Sano > Sãao > São
Sancto > Samto > Saam > São

Podemos dividir os metaplasmos em três grupos: os de adição, os de supressão, e os de modificação.

São 3 os metaplasmos de Adição:

Prótese: adição de fonema no início da palavra. (stella = Estrela)
Epêntese: adição de fonema no interior da palavra. (stella = estRela)
Paragoge (ou Epítese): adição de fonema no fim da palavra. (ante = anteS)

São 5 os metaplasmos de Supressão:

Aférese: retirada de fonema do início da palavra. (Attonitu = tonto)
Síncope: retirada de fonema do interior da palavra. (maLo = mau)
Apócope: retirada de fonema do fim da palavra. (marE = mar)
Crase: junção de duas vogais iguais numa só. (coOr = cor)
Haplologia: quando duas sílabas são muito parecidas, a mais fraca é retirada. (bonDAdoso = bondoso)

Os metaplasmos de modificação podem ser ainda divididos em dois grupos: os de transposição e os de transformação.

São 3 os metaplasmos de Transposição – quando um fonema se move dentro da palavra:

Metátese: deslocamento interno à sílaba. (sempER = sempRE)
Hipértese: deslocamento de uma sílaba para outra. (primárIo = primeIro)
Hiperbibatismo: mudança de tonicidade. Pode ser:
     – Diástole: avanço da sílaba tônica.  (LImite = liMIte)
     – Sístole: recuo da sílaba tônica. (panTAnu = PÂNtano)

Já os metaplasmos de Transformação são 13, mais numerosos do que todos os outros juntos:

Apofonia: mudança de timbre da vogal. (bArbA = imbErbE)
Assibilação: transformação de uma ou mais vogais em sibilantes (/s/ ou /z/). (auDIo = ouÇo)
Assimilação: duas consoantes diferentes viram duas iguais. (peRSona = peSSoa)
Consonantização: vogal transforma-se em consoante. (Uita = Vida)
Desnasalização: fonema nasal vira oral. (luNa = lUa)
Dissimilação: diferenciação de dois fonemas iguais. (MeMorare = LeMbrar)
Ditongação: transformação de duas vogais separadas em ditongo. (mAlO = mAU)
Metafonia: mudança de timbre de uma vogal por influência do I ou do U. (dEbita = dÍvida)
Monotongação: ditongo vira vogal. (AUricula = Orelha)
Nasalização: fonema oral transforma-se em nasal. (bOnu = bOM)
Palatização: transformação de um ou mais fonemas em palatais (/ʒ/, /ʃ/, /λ/ou /ŋ/)  . (viNo = viNHo)
Sonorização: transformação de consoante surda (/f/, /k/, /p/, /s/, /t/ ou /ʃ/) em sonora (/v/, /g/, /b/, /z/, /d/ ou /ʒ/). (luPu = loBo)
Vocalização: consoante transforma-se em vogal. (noCte = noIte)

O importante aqui é você entender que fonemas podem surgir, sumir ou mudar no decorrer da evolução das palavras. Por exemplo:

stella > Estella > estRella > estrela
scutu > Escutu > esduDu > escudO
POnere > poNEre > poner > poer > pôr

E por aí vai.

O curioso é que muitas vezes o Português acabou mantendo estágios diferentes da mesma palavra em seu vocabulário, com sentidos ligeiramente diferentes, como o exemplo supracitado, no qual a palavra “plenu” deu origem a “pleno” e “cheio”. Também acontece de palavras modernas terem derivadas originadas de versões anteriores delas, como a palavra “chuva”, que tem como origem a palavra “pluvia” – daí as expressões “águas pluviais” e “índice pluviométrico” -, e o verbo “lembrar”, que tem como origem a palavra “memorare” – daí o adjetivo “memorável”.

Louco, né!?

Um abraço!



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